revirei, não. talvez bem no comecinho...chafurdei, fiz festinha de poeira e meleca de óleo diesel. eram uns livros velhos, não. só uma parte das coisas que estava guardada numa prateleira. guardada, não. depositada. atrás de uns cobogós sujos. ou de qualquer coisa que mal ou bem deixe passar o ar e seja impraticável limpar como se deve.
só sei que teve um momentinho ali em que eu parei...brinquei um pouco com os dedos numas folhas empilhadas...talvez porque soubesse que em geral não se corta um dedo alisando um livro...e eram dedos subindo pequenos degraus, as lombadas. um vibrafone de papel. os tons metálicos ficam por conta da poeira que voava. até que um livro de um formato estranho interrompeu tudo. não explico por que, mas não quis abrir. não era o livro a grande questão naquele momento. era o nicho. a pancada seca dos livros do lado, ou de um deles que escorreu toda a pilha para cima da parte mais coesa. e nichos da mesma graça se espalharam por toda aquela linha.
nesse primeiro deslumbramento eu tinha sede de todos eles. queria ouvir mais pancadas secas, mais nuvenzinhas de poeira, quem sabe até visitar as traças que moravam em cada uma daquelas casinhas. depois eu lembrei dos dedos, e das lombadas. propus um passeio.
fato é que, depois disso, a escala daquilo que eu explorava se tornou quase irrealizável. dedos fatigados, comando sedento. ignorei e prossegui. e eu descobri que era o grão o que eu queria.
se eles (os dedos) pudessem falar alguma coisa naquele momento, provavelmente eu aguentaria um breve discurso sobre as coisas vãs, encerrado por alguma coisa do tipo "pimenta no olho dos outros é refresco...". e eu responderia com um afago, dedos contra dedos mediados pela poeira e pelo diesel.
e eles prontamente se renderiam.
abertura (dani)
Há 14 anos