
referência sempre me pareceu uma coisa gozada...ainda mais quando se trata de memória...ou de qualquer função que se apresente parecida. de repente hoje, pensando nisso, eu vi um daqueles bonecos de papel em duas dimensões. mais que isso, vi alfinetes entortados nas pontas fazendo as articulações entre as partes, o papel e o metal compartilhando o laranja do óxido. uma série deles, cabeças com pés, troncos com joelhos e quadris nos braços.
me vejo fazendo isso todos os dias, praticamente. as vezes tenho a sensação de que um simples tropeço ao longo dos dias numa situação qualquer que me traga à mente dois ou três versos de alguma música esquecida (e que sozinhos, naquela circunstância específica, naquele instante, é tudo o que se precisa para fazer o mundo frear por três ou quatro segundos e trazer meu cotovelo à testa ou meus tornozelos encaixados diretamente ao cócix)sou então capaz de sentir o cheiro do meu papel e dos meus óxidos, meus alfinetes e as folgas todas. ainda não deixei nenhum membro inteiro, mas percebo quase todos pulverizados, de alguma forma.
as impressões do verso usam uma fonte estranhamente simpática. um monte de formas puras, bem wide, parece letreiro de prédio com feições modernistas das décadas de 60/70. e é verde, com uma linha bastante pesada correndo sob as letras. óxido, óxido, óxido, infinitamente, coroando.
o sinal se fecha bem à minha frente, sinto uma série de pequenos golpes se distribuindo pelas folgas, ouço barulho de coisas se rasgando e o cheiro vivo do papel oxidado. um tilintar para cada folga, rítmo ditado pela distância entre cada folga e o piso e então o sinal abre e eu não vou. não sem antes me refestelar nesses papéis e me cortar de leve com as pontas dos alfinetes. e é quando se deixa de carregar consigo e apenas se nota, com a agudeza de um corte feito com borda de papel e sua cicatriz, até que se confunda com uma linha de expressão ou coisa que o valha.
eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...quem sabe?