domingo, 22 de março de 2009

manda descer pra ver

(uma porção de linhazinhas, de lá até aqui)

são daquelas sobre as quais não se pode escrever. a caneta falha, a tinta encrespa, o grafite não adere. estéreis, talvez. ou talvez só preservando um significado agora insondável, mas que pode ter grande valia daqui uns tempos.
é a quebra automática pela mão esquerda, ou a sineta da remington que escrevia contratos que não existiam, e que me mentia a idade toda vez que eu perguntava, sempre para mais. era azul, e tinha um aramezinho amarrado numa haste cromada. era nela que eu encostava quando era vez de começar um novo parágrafo. ou quando não tinha folha e eu só queria a pancada seca dos tipos no rolo de borracha...e a próxima lauda sempre levava um fragmento esquisito, rarefeito, um texto sem sentido, uma repetição aleatória de letras vizinhas, no verso, interceptadas pelos tipos das letras do texto que, acreditava-se, realmente fazia algum sentido. sempre em preto e vermelho, a cor dos dedos que brincavam com a fita rôta. naquela época caixa alta machucava os dedos e toda estrutura de tópicos enumerada começava com a letra l. e era sempre um prazer excuso, proibido. nenhum desses produtos foi guardado, talvez porque na época fossem pretensamente textos com vida útil de quinze segundos, limitados pelo tempo em que a folha era sumariamente e indelicadamente rasgada sem cuidado, e sobrasse um rastilhozinho, ou uma série deles, sendo trazidos um a um dias depois pelo mesmo rolo de borracha.

(é, isso me faz alguma falta hoje.)

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